Acessibilidade e a tecnologia assistiva

Ter alguma deficiência aumenta o custo de vida em cerca de um terço da renda (em média) de uma pessoa. Completar a escola primária também é um desafio enorme para as crianças com deficiência: enquanto 60% delas completam essa etapa de estudos nos países desenvolvidos, apenas 45% (meninos) e 32% (meninas) completam o ensino primário nos países em desenvolvimento.

O termo Assistive Technology/Tecnologia Assistiva, ainda novo, é utilizado para identificar quaisquer recursos ou serviços que contribuam para proporcionar, ou ampliar, habilidades funcionais de pessoas com deficiência e assim, consequentemente, promover uma vida independente e inclusão.

“Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social” (ATA VII – Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) – Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) – Secretaria Especial dos Direitos Humanos – Presidência da República).

E por Recursos podemos classificar todo e qualquer item, equipamento ou parte dele, produto ou sistema fabricado em série ou sob medida utilizado para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência; desde os mais simples, como uma bengala, quanto a um sistema computadorizado e Serviços, são aqueles que auxiliam diretamente uma pessoa com deficiência a selecionar, comprar ou utilizar quaisquer desses recursos.

Os objetivos da Tecnologia Assistiva visam proporcionar, à pessoa com deficiência, maior independência, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação de sua comunicação, mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado, trabalho e integração com a família, amigos e sociedade.

De acordo com a ONU, estima-se que há mais de 1 bilhão de pessoas com alguma deficiência em todo o mundo!!! A falta de estatísticas detalhadas sobre pessoas com deficiência contribui para a invisibilidade destas e, embora, isso represente um obstáculo para planejar e implementar políticas públicas de desenvolvimento elas já começam a se beneficiar de ideias, projetos empreendedores e suas inovações tecnológicas para ter uma vida menos difícil.

A Tecnologia Assistiva é uma das seis áreas consideradas prioritárias na Política Operacional da Finep (agência de fomento público à Ciência, Tecnologia e Inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas) e disponibiliza recursos em até 90% das despesas do projeto.

Recursos ou investimentos para se tornarem mais eficazes, além do empreendimento e comprometimento das pessoas envolvidas – em criar e aprimorar (esses produtos e serviços), em alguns casos dependem também da solidariedade de outras pessoas, como no caso do aplicativo Be My Eyes.

Este aplicativo, criado pelo dinamarquês Hans Jorgen Wilberg, conecta deficientes visuais com voluntários que aceitam “emprestar sua visão” para eles… e que tem no Brasil o segundo lugar na quantidade de voluntários!

Atividades simples do cotidiano, como por exemplo: ler o prazo de validade de um produto, escolher a lata certa no armário ou verificar a cor de uma peça de roupa, são coisas bem difíceis de se fazer sozinho! O aplicativo Be My Eyes oferece toda a acessibilidade necessária para se conectar à outra pessoa, funcionando com voz e vídeo ao vivo e, assim, é possível para o deficiente mostrar o que ele quer ler, conferir ou “ver”. As orientações do voluntário são feitas por escrito e o aplicativo consegue lê-las em voz alta para a pessoa – O aplicativo foi muito bem recebido pela comunidade de deficientes visuais pois permite obter ajuda em momentos que pode ser inconveniente pedir ajuda a vizinhos ou a um amigo”

E os exemplos do Brasil? Ah são maravilhosos

A língua é uma das principais manifestações culturais e identitárias – um conjunto organizado de sons e gestos que um grupo usa para se comunicar com estrutura e regras próprias. Visões de mundo e mudanças de modos de pensar podem ser identificados nas mais variadas construções linguísticas, sotaques, expressões, palavras e também palavrões… e um país não é feito somente de uma única língua tá?

 A comunicação é um dos processos mais importantes no nosso desenvolvimento. É ela que nos oferece a possibilidade de expressão, proximidade, compreensão, ensino, aprendizado, identificação, afeto, enfim dá-se sentido a própria existência!

Mas e aqueles que não escutam? 

Pessoas surdas possuem níveis diferentes de compreensão do português escrito e, algumas delas, com dificuldades que podem inviabilizar o entendimento e a interpretação de um texto. Estas dificuldades em muito se relacionam com o emprego de metodologias de ensino inadequadas e ineficientes e que, na maior parte dos casos, excluem a língua de sinais e os recursos visuais e pedagógicos necessários. Por isso, nem sempre é suficiente incluir um texto escrito para promover acessibilidade para surdos!

LIBRAS ou Língua Brasileira de Sinais, embora tenha sofrido alguma influência do português (afinal são línguas em contato), teve sua origem na Língua de Sinais Francesa.

Uma coisa que muita gente não sabe é que a LIBRAS não é uma língua universal. Existem mais de 200 línguas de sinais no mundo e cada uma tem suas próprias normas. Ela não é só um conjunto de sinais para as palavras em português, ela vai muito além disso… ela é um outro idioma!

No Brasil, apenas no ano de 2002 a Língua Brasileira de Sinais foi oficialmente reconhecida e aceita como segunda língua, através da Lei 10.436.

Assim como as diversas línguas naturais e humanas existentes, ela é composta por níveis linguísticos como: fonologia, morfologia, sintaxe e semântica, e da mesma forma que nas línguas orais-auditivas existem palavras, nas línguas de sinais também existem itens lexicais, que recebem o nome de sinais – a diferença é sua modalidade de articulação, visual-espacial ou cinésico-visual.

Cerca de 70% dos surdos tem dificuldade em ler e escrever a língua escrita de seu país, pois a experiência de comunicação dessas pessoas é extremamente visual.

A língua de sinais é considerada a língua materna de uma pessoa surda, já que é a primeira língua que ela aprende. Mas não basta somente aprender LIBRAS para todo mundo te entender…… O caráter linguístico da língua de sinais também é reconhecido pela ocorrência de regionalismos, variações locais, sotaques, gírias, da mesma maneira que ocorre com as línguas orais, e, sempre haverá apropriações e transformações, assim como sua diversidade de uso.

O Hand Talk (Mãos que Falam) é um aplicativo, para dispositivos móveis, que converte textos, imagens e áudio para a Língua Brasileira de Sinais. Desenvolvido em Alagoas, fruto do trabalho de três jovens empreendedores que desejavam gerar impacto social – Carlos Wanderlan, Ronaldo Tenório e Thadeu Luz. A proposta de tão inovadora ganhou World Summit Award Mobile – competição bianual promovida pela ONU que reconhece aplicativos de relevância para toda a humanidade

Milhares de brasileiros com deficiência auditiva vivem em uma realidade (sites, jornal, placas de trânsito, embalagens de alimentos…) repleta de palavras escritas que nem sempre fazem sentido pois muitos deles têm dificuldade de entender o português – a maioria dos surdos é alfabetizada primeiro em LIBRAS e, por isso, não entende bem o português.

 é uma ferramenta que pode mudar a vida dessas pessoas, pois reconhece três tipos de informação – textos, imagens e sons – e traduz seu conteúdo para a língua de sinais com a ajuda de um simpático personagem chamado Hugo – um intérprete virtual.

É bem simples de usar, por exemplo: se um deficiente auditivo recebe um SMS, o Hugo pode traduzi-lo para LIBRAS, ou então quando encontra uma placa na rua que não entende o significado, é só tirar uma foto e enviá-la para o Hugo, que varre a imagem em busca de palavras que depois são traduzidas para LIBRAS.

O aplicativo é gratuito e conta ainda com vídeos do simpático Hugo, nos quais ele ensina diversos termos, como profissões, cores, sinais de saudação e muito mais ajudando também as demais pessoas a aprender!

Viu só, uma solução brasileira que nasceu para dar voz, ouvidos e novas perspectivas de inclusão e já teve mais de 1 milhão de downloads, impactando mais de 6 milhões de pessoas!

E bora conhecer mais um bom exemplo Brazuca?

Com um prêmio, da ONU, de melhor aplicativo de inclusão social do mundo, a Inovação Tecnológica de maior impacto de 2014 (pelo BID) e um investimento do Google de cerca de R$ 2,2 milhões de reais o LIVOX vem ajudando milhares de pessoas com paralisia cerebral.

Olha Pernambuco aí gente… Salve Nordeste!

O LIVOX surgiu da necessidade dos pais Carlos Edmar Pereira e Aline Costa Pereira, de se comunicarem melhor com sua filha, a fofa Clara, que tem paralisia cerebral.

O LIVOX (“Liberdade em Voz Alta”) é um aplicativo de comunicação para pessoas que não conseguem falar, devido a algum tipo de deficiência. Pai de uma menina de 7 anos de idade com paralisia cerebral, devido a um erro médico, Carlos foi em busca de uma alternativa para se comunicar com ela e como não encontrou nada em português resolveu fazer algo.

No Brasil são em torno de 15 milhões de pessoas que tem dificuldade para se comunicar!!!

No caso da Clara, a dificuldade é motora, ou seja, tem toda a inteligência de uma criança da idade dela, mas está presa a um corpo que não obedece aos seus comandos. Pessoas como ela utilizam a “Comunicação Alternativa” para se comunicarem, que geralmente são cartões impressos com uma figura e uma sentença. Esses cartões além de complicado, e trabalhoso, carregar para todo lado, acabam ficando enormes.

Para Carlos tinha que haver uma maneira melhor! Embora Clarinha não consiga usar lápis e papel isso não quer dizer que ela não possa ser alfabetizada – paralisia cerebral não é doença, mas sim uma condição especial!

“Uma lesão no sistema nervoso central pode afetar a parte motora ou mental da pessoa assim quando a lesão só atinge a parte motora, denomina-se paralisia cerebral e quando compromete a parte mental (cognitivo), resulta em deficiência intelectual” Fernando Kok, neurologista infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Assim, Carlos, que tem formação em Análise de Sistemas, reuniu uma equipe de colaboradores formada por profissionais de tecnologia, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais para criação daquele que viria a ser o primeiro software de comunicação alternativa para tablets em português do Mundo!!! 

O LIVOX permite que as pessoas com deficiência se comuniquem e aprendam. Ele possui algoritmos para distúrbios motores, cognitivos e visuais e, assim, o LIVOX é diferente para cada pessoa – de acordo com o tipo e grau de sua deficiência. Os usuários tocam a tela do tablet, com o software instalado, para expressar por comando de voz suas emoções, necessidades e desejos, como o de se alimentar por exemplo! Possui um catálogo de 20 mil imagens que podem ser utilizadas em conjunto com textos.

O aplicativo, baseado em algoritmos inteligentes, como o IntelliTouch, se ajusta a diferentes graus de deficiência motora, cognitiva e visual, sendo, inclusive, capaz de corrigir o toque impreciso na tela do tablet da pessoa com deficiência. O teclado virtual da ferramenta “fala” automaticamente, por comando de voz, palavras ou frases que estão sendo digitadas – o que torna possível a comunicação do usuário com outras pessoas. Ele permite ainda a criação de pranchas com imagens personalizadas e o compartilhamento do conteúdo entre tablets, com a ferramenta instalada, bem como o acesso a atividades culturais como filmes, desenhos e músicas.

Depois de dar “voz” à Clara, o LIVOX já atende a mais de 10 mil usuários, é utilizado em muitas unidades da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) cuja parceria permite um desconto de mais de 70% (APAE-SP), e utilizado também na reabilitação pediátrica do Florida Hospital, nos Estados Unidos.

 O empreendedor conta, duplamente orgulhoso, que sua menina já usa o LIVOX para fazer trabalhos da escola, sem os quais não seria avaliada como os outros alunos… que maravilha né? Obrigada Carlos!!!

Todas as pessoas merecem ter condições de se desenvolver e aprender. Temos que conhecer melhor, nos tornando mais abertos, mais respeitosos e…. menos deficientes né?

Imagens: divulgação e pinterest

Fontes:

http://www.finep.gov.br/

https://nacoesunidas.org/acao/pessoas-com-deficiencia/

http://bemyeyes.com/

https://handtalk.me/

http://www.livox.com.br/conheca-o-livox

http://paralisiacerebral.org.br/saibamais05.php

http://paralisiacerebral.org.br/

http://nacpc.org.br/paralisia_oque_e.htm

http://www.bengalalegal.com/paralisia

http://www.ntaai.unb.br/index.php/noticias-resumo/41-o-que-e-tecnologia-assistiva

http://www.assistiva.com.br/tassistiva.html

Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos – http://feneis.org.br/

https://www.ebiografia.com/helen_keller/

http://projetodraft.com/hand-talk-a-startup-de-alagoas-que-esta-ajudando-os-surdos-brasileiros-se-comunicarem-com-o-mundo/

http://twizer.com/apps-do-bem/aplicativo-vai-te-ensinar-a-linguagem-de-sinais

https://psicologiaacessivel.net/2016/04/19/dica-de-livros-cinderela-surda-e-rapunzel-surda/

http://portal.mec.gov.br/ines

https://www.deficienteciente.com.br/quem-e-quantas-sao-as-pessoas-com-deficiencia-no-brasil.html

http://www.intellitouch.com/#about

 

2 Comments

  1. Amei a matéria!! Pra mim, super novidade os aplicativos e show de bola poder ajudar. Muito bom!

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