Um orgulho de bibliotecária

“… Pouco importa por qual razão uma biblioteca é destruída: toda proibição, mutilação, destruição, saque ou pilhagem faz nascer (ao menos como presença espectral) uma biblioteca mais estridente, mais cristalina, mais durável, feita de livros proibidos, saqueados, pilhados, destruídos ou mutilados. ” (Alberto Manguel – A Biblioteca à Noite – p.109)

Um Professor obstinado… alguns poucos livros velhos arrumados sob as tábuas soltas no chão ou escondidos na barra da saia de uma valente menina de 14 anos; a luta pela vida, mas sobretudo pela sanidade em um campo de concentração em plena Segunda Guerra Mundial … são esses elementos que passamos a conhecer nesta emocionante história da “Bibliotecária de Auschwitz”.

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“Alguns não acreditavam que isso fosse possível: pensaram que Hirsch era um louco ou um completo ingênuo… como escolarizar crianças num brutal campo de extermínio, onde tudo é proibido? E ele sorria… Hirsch sempre sorria, enigmático, como se soubesse algo que os demais desconheciam. Não importa quantos colégios os nazistas fechem, respondia. Cada vez que alguém se detiver em um canto para contar algo e algumas crianças se sentarem ao redor para escutar, ali terá sido fundada uma escola! ” p. 11-12

 Trata-se de um romance baseado em fatos reais, contados para o autor por  Edita Polachova (no livro foi usado Adlerova), nascida na República Tcheca em 1929, durante o tempo em que ela permaneceu no Pavilhão 31, do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, na Polônia, durante a Segunda Guerra Mundial. Os livros, dentre outros objetos, chegavam ao Pavilhão por intermédio de prisioneiros que eram responsáveis por separar os objetos das malas daqueles que eram levados para as câmaras de gás.

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Dentre os livros…   “um atlas desencadernado com páginas faltantes”;  “o tratado elementar de geometria”;  “uma gramatica russa”;  “um romance francês bastante deteriorado”;  “novos caminhos da teoria psicanalítica”; “um romance russo”; “Uma Breve História do Mundo”, de H.G. Wells; “As Aventuras do Bravo Soldado Svejk”, de Jaroslav Hasek.

“Dita olhava os livros, mas, sobretudo os acariciava. Estavam rasgados e riscados, muito manuseados, com as extremidades avermelhadas de umidade, alguns mutilados… mas eram um tesouro. ” […] “Mais do que uma bibliotecária, desde esse dia ela se tornou uma enfermeira de livros. ” p. 39.

Naquele lugar onde, constantemente, a morte se fazia presente, Dita, Freddy Hirsch e os demais professores tentavam levar àquelas crianças um pouco de alegria e conhecimento usando esses poucos livros e a imaginação ao contar histórias, nos jogos de palavras e a “brincar” em um “teatro” nas raras horas que não tinham a companhia dos guardas.

“As crianças não liam os livros. Eu me lembro de um Atlas. As crianças olhavam as figuras, os mapas aleatoriamente. Mas eram usados de forma lúdica, até mesmo para jogos de palavras. Jogo do ABC. Os livros, embora interessantes, não foram escritos para crianças. Mas adultos repetiam várias vezes certos capítulos de alguns desses livros. Isto ocorria diversas vezes ao dia. Chamávamos de livros andantes. Eram as melhores histórias, porque se misturavam com a imaginação das crianças que estavam ali.” Dita Kraus

Com uma escrita simples e uma descrição minuciosa A Bibliotecária de Auschwitz é um livro por muitas vezes chocante, mas, também, tocante ao conhecermos a vida de personagens reais que em meio a um ambiente de horror e dor não permitiram que o medo, o sofrimento e a incerteza tirassem daquelas crianças o direito de serem crianças, ainda que por algumas horas, e aprenderem que “abrir um livro é como abrir uma janela para a liberdade”.

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No final do livro o autor traz informações acerca de alguns personagens, além de relatos sobre a viagem feita por ele a Auschwitz-Birkenau, as sensações que experimentou naquele local e o encontro emocionante com Dita que ainda vive em Israel, isso tudo parte da pesquisa que resultou nesta obra.

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A Bibliotecária de Auschwitz: um romance baseado numa história real – Autor: Antonio G Iturbe – tradução de Dênia Sad – 2014 – ISBN: 9788522015849 – Ed. Agir – 368 páginas.

Notas:

Vale a pena ler também: A Biblioteca a Noite – Alberto Manguel – Trad. Samuel Titan Jr. – Cia das Letras – 2006

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Conheça a Dita:

dita Agora Dita Kraus, esta simpática senhora de 87 anos, mora em Israel. Ela é viúva do escritor Otto Kraus, autor de “The Painted Wall” (ele também prisioneiro do mesmo pavilhão)http://www.ottobkraus.com/

Fontes e imagens:

Obra em questão inclusive as informações sobre edição e editora

http://www.thesecretlarevista.com/en/1/5612/Dita_Kraus.html

http://www.jornalopcao.com.br/posts/entrevista/dita-kraus-a-bibliotecaria-de-auschwitz-fala-com-exclusividade-ao-jornal-opcao

2 Comments

  1. Senti saudades deste livro do Manguel…. o outro ganhei de uma pessoa muito especial ! eh eh

    Beijos

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