As “pinturas de bordas” (fore-edge paintings) somente podem ser vistas quando as páginas da obra são flexionadas em um determinado ângulo…
É uma arte de decoração de livros, diferente de qualquer outra… e, embora já não seja tão popular, e quase esquecida, um talentoso artista, e entusiasta, desta arte ainda resiste e surpreende com este trabalho tão incrível 😊
Martin Frost é um simpático inglês, apaixonado pelo que faz e que não se considera um artista…
“não me considero um artista porque um artista “cria coisas (imagens) novas”, sou um pintor, pinto imagens e fico mais feliz quando tenho um pincel na mão – não é trabalho é basicamente diversão” 😊
Eu sou o único que faz o processo todo – pinturas, douração e encadernação final. Este é um trabalho artesanal, que envolve habilidade e dedicação, e eu faço isso há mais de 40 anos, e levei esse tempo para chegar onde estou agora – as habilidades de encadernação e douramento tive que aprender e desenvolver trabalhando e, claro, com vários amigos, grandes encadernadores, que encontrei até hoje!
Em 2019 Martin Frost foi homenageado com a Ordem do Império Britânico por seus serviços em preservar a arte de “fore-edge paintings” (pinturas de bordas ocultas)
Ele sempre foi pintor, seu pai, membro da The Pastel Society, de Londres, também o era, porém, foi no teatro que ele aliou sua habilidade à vontade de fazer “algo diferente, único”.
Frost produzia cenografias, figurinos, adereços e cenários até que conheceu o colega Don Noble que fazia algo mais… “pinturas de bordas”. Foi aí que ele começou… e não parou mais 😊 comecei a “pintura de bordas” por volta de 1970 e produzi cerca de 3.500 até agora.
Os primeiros exemplos, desta arte, que se tem evidências remontam a 1650, em Londres, e geralmente eram brasões de armas, brasões de famílias, letras e emblemas. Ao final do século 18, a família de livreiros Edwards de Halifax, transformou esta arte no que encontramos hoje utilizando, como inspiração, paisagens marítimas e urbanas como as encontradas em quadros pendurados nas paredes das casas de importantes famílias da época, sendo aplicados em bíblias, livros de orações, de poesias ou clássicos.
Os desenhos podiam ilustrar uma cena do livro, estar relacionados com o assunto do livro…
ou não…
Aqui, uma pintura de jogadores de golfe, “ilustrando” uma edição de 1874 do romance de Charlotte M. Yonge “O Herdeiro da Redclyffe”.
Os Edwards foram os pioneiros na comercialização de obras com “pinturas de bordas oculta” além de criarem encadernações únicas disputadíssimas entre os colecionadores até hoje!
Para que as pinturas sejam realizadas, o bloco de páginas (ou miolo) já deverá ter sido perfeitamente refilado e o livro estar encadernado – o livro então é colocado em uma prensa e um grampo o mantém na posição para que se faça a pintura 😊
A ilustração pode ser frontal (fore-edge), dupla (two-way double), dupla dividida (split double), em todos os cortes (all-edge) ou panorâmica (panoramic).
Existem várias coleções importantes de livros decorados com essa técnica pelo mundo, e, dentre elas, a coleção de Albert H Wiggin, doada para a Biblioteca Pública de Boston, tem 258 volumes e a maior é a coleção Estelle Doheny, pertencente a Biblioteca Edward Laurence Doheny Memorial, situada no Seminário St. John’s, em Camarillo na Califórnia, com o dobro de tamanho!
Neste vídeo, em inglês, Martin Frost explica um pouquinho desta incrível arte inclusive do que fez com um livro do Harry Potter 😊