Muito mais que um escritor, o argentino Alberto Manguel nascido em Buenos Aires em 1948, viveu em Israel e no Taiti até se mudar, em 1980, para Toronto, onde se tornou cidadão canadense. Aprendeu a ler por volta dos 3 anos e, desde então, descobriu-se um leitor voraz. Quando adolescente, leu em voz alta, durante anos, para Jorge Luis Borges, que ficara cego. Foi diretor da Biblioteca Nacional da Argentina e, também, morou em um presbitério construído no século 16, que comprou para instalar sua volumosa biblioteca que beira os 30 mil volumes
O Livro foi minha primeira introdução a este, agora, idolatrado autor. Com histórias pitorescas, comentários interessantes e bem-humorados Manguel nos leva pelo mundo das mais diversas bibliotecas mostrando que elas são cultuadas não por só por oferecerem conhecimento, mas também pela adorável companhiaPasseia também pela história das civilizações, ora olhando para os livros, ora para aqueles que se dedicam a lê-los, a guardá-los, escondê-los ou, até mesmo, a destruí-los
Nos questiona…
“Se a biblioteca de Alexandria foi o emblema de nossa sede de onisciência, a web é o emblema de nossa sede de onipresença; a biblioteca que guardava tudo transformou-se na biblioteca que guarda qualquer coisa”, conclui Alberto Manguel, e é este um problema real… Se tudo passa a ser importante, tudo perde sua importância! Como ler esta biblioteca onde estamos todos nas estantes?”
Nos diverte…
“Velhos ou novos, o único sinal de que sempre tento livrar meus livros (em geral com pouco sucesso) é a etiqueta autocolante de preço que livreiros malévolos pregam nas contracapas. Aquelas crostas brancas e daninhas saem com dificuldade, deixando feridas leprosas e trilhas grudentas às quais aderem o pó e a lanugem do tempo, fazendo-me desejar que seu inventor seja condenado a um inferno especial, viscoso.” “tamo junto Manguel”
Nos ilumina…
“Os visitantes costumam perguntar se li todos os meus livros; minha resposta costumeira é que com certeza abri cada um deles. O fato é que uma biblioteca, seja qual for seu tamanho, não precisa ser lida por inteiro para ser útil; todo leitor tira proveito de um sábio equilíbrio entre conhecimento e ignorância, lembrança e esquecimento. Não tenho nenhum sentimento de culpa diante dos livros que não li e talvez jamais lerei; sei que meus livros têm uma paciência ilimitada. Vão esperar por mim até o fim de meus dias.”
Traz também curiosidades sobre livros, seus “donos e suas bibliotecas”, e até mesmo como organizá-las … Olha o Dewey aí gente (Melvin Dewey (1851-1931) bibliotecário que criou um sistema de classificação (bibliográfica) numérica para as áreas de conhecimento utilizado até hoje nas bibliotecas)
Nos “mostra” as mais incríveis bibliotecas (dentre elas as míticas Biblioteca de Alexandria e a do Capitão Nemo), seus caminhos pelos séculos e como algumas (partes) se salvaram e também como muitas se perderam …
Nos “faz sentir” seu grande amor pelos livros e nos ensina que, mesmo aqueles “esquecidos”, podem trazer muito prazer às nossas vidas!
“Os livros esquecidos de minha biblioteca levam uma existência tácita e discreta. Mesmo assim, sua própria qualidade de livros esquecidos às vezes me permite redescobrir uma história ou um poema como se fossem perfeitamente novos. Abro um livro que imagino jamais ter aberto antes e dou com um verso esplêndido que, digo comigo mesmo, não posso esquecer, para então fechar o livro e ver, na última página, que eu mesmo, mais sábio e mais jovem, marquei a mesma passagem quando a descobri, aos doze ou treze anos.”
E foi após ler esse livro encantador que, em 2015, a diretora do programa cultural da Biblioteca e Arquivos Nacionais do Quebec, Nicole Vallières, convidou Alberto Manguel para realizar uma exposição em torno do seu livro para comemorar o décimo aniversário da instituição.
“Aceitei com entusiasmo, mas sugeri que, em vez de expor meu exemplar impresso e o manuscrito (o que, na minha opinião, seria uma exposição entediante), ela pedisse a Robert Lepage (artista multimídia e encenador premiado, fundador da Ex Machina) para imaginar um espetáculo a partir do livro”, contou Alberto Manguel em um depoimento.”
O SESC Avenida Paulista em São Paulo, recebe, até o dia 10/02/2019, a exposição imersiva “A Biblioteca à Noite”. Concebida pelo diretor canadense Robert Lepage e a Companhia Ex Machina, que conta com o apoio do Institut Français e Embaixada da França, do Consulado Geral do Canadá e do Escritório do Quebec (foi exibida em Quebec em 2016, e em 2017 na Biblioteca Nacional da França)
A exposição oferece aos visitantes uma experiência, ao mesmo tempo cenográfica e virtual, seguindo um roteiro de 10 bibliotecas, reais ou imaginárias – um convite a uma viagem de Sarajevo até a Cidade do México, passando pela mítica biblioteca de Alexandria até o fundo dos mares a bordo do Nautilus, da obra “Vinte Mil Léguas Submarinas”, de Júlio Verne. O primeiro espaço é uma reprodução da biblioteca francesa do próprio Alberto Manguel, com paredes de pedra, janelas riscadas de água e chuva nas janelas, permitindo que o público adentre a seu universo enquanto se aclimata à relativa escuridão que caracteriza a exposição. A segunda sala, a floresta, é o coração da experiência imersiva, neste local, usando óculos de vídeo tridimensional, o público é transportado para uma realidade virtual, explorando a tecnologia de imersão conhecida como 3D 360° VR.
Incluo aqui alguns detalhes sobre as Bibliotecas incríveis que você “visitará” na exposição (a maioria já “faladas” aqui no Blog )
Biblioteca da Abadia De Admont – Áustria
Maior biblioteca monástica do mundo, construída no Iluminismo dispõe, nos quatro cantos da sala, esculturas; a Morte, o Juízo Final, o Inferno e o Paraíso – reforçando a ideia de manter o homem com os pés no chão e lembrá-lo de sua incontestável condição de mero mortal. Seu acervo é dividido em três partes: num dos extremos guarda a literatura sobre ciência e, no outro, os tratados de filosofia e no centro estão as bíblias – árbitros supremos de todas as questões que confrontam o homem.
Templo De Hase-Dera, Japão
Fundado em no ano de 736 está situado nas colinas de Kamakura no Japão, onde os monges copistas começam a registrar as palavras de Buda, a fim de garantir sua sustentabilidade – no início da era Edo, a vasta maioria da população japonesa não sabia ler nem escrever e para assegurar a transmissão do saber religioso, os monges criaram o rinzo, uma imensa prateleira giratória que desencadeia o tilintar de sinos que são fixados a ela – esses sons têm como objetivo espantar os maus espíritos que assombram a biblioteca.
Biblioteca do Nautilus
Quando jovem, Alberto Manguel lia Julio Verne “por causa das extraordinárias ilustrações” e, adulto, se torna “um prisioneiro de boa vontade” enfeitiçado pelo romance “Vinte Mil Léguas Submarinas”, como Aronnax, prisioneiro do Nautilus, é fascinado pelo esplendor da biblioteca do capitão Nemo (que contém 12.000 obras de ciência, moral, literatura, escritas em uma multiplicidade de línguas)
Biblioteca Nacional de Sarajevo
Construída no final do século XIX em estilo arquitetônico neo-mourisco, a biblioteca era, originalmente, a prefeitura de Sarajevo. Sua quase total destruição em 1992 (quando seu acervo dispunha de quase dois milhões de livros incluindo volumes raros refletindo a vida multicultural dos impérios otomano e austro-húngaro), durante o cerco de Sarajevo (guerra civil, que durou até 1995). Em 2014, a Biblioteca Nacional foi reinaugurada.
Biblioteca de Alexandria
A mítica Biblioteca de Alexandria é considerada a mãe de todas as bibliotecas e nasce da vontade dos primeiros faraós ptolomaicos de reunir todo o conhecimento existente – reunindo uma soma de textos que lhe permitem reinar sobre o mundo de sua época. Já a nova biblioteca de Alexandria, inaugurada em 2002, é a reencarnação contemporânea da mítica biblioteca e foi erguida no lugar supostamente ocupado pelo primeiro prédio.
Biblioteca Vasconcelos – Cidade do México
Esta incrível biblioteca, inaugurada em 2006, presta homenagem ao filósofo, educador e candidato presidencial José Vasconcelos (um dos presidente da Biblioteca Nacional do México e promotor ativo da leitura) e pode ser vista, primeiramente, como uma enorme arca moderna onde livros, prateleiras e conhecimento flutuam no espaço, e à qual as pessoas podem se agarrar em caso de terremoto ou dilúvio, afastando as ameaças sísmicas que atormentam a região.
Biblioteca da Universidade de Copenhague, Dinamarca
Construída em 1855, na grande época da arquitetura neo-gótica, a Biblioteca de Ciências Sociais da Universidade de Copenhague, hoje em dia, tem apenas um valor patrimonial– seus livros não estão classificados nem listados e, portanto, não podem ser consultados. É uma biblioteca de uma época passada, composta de livros perdidos em prateleiras, sem endereço, que são chamados de livros mortos.
Biblioteca do Parlamento, Ottawa, Canadá
A biblioteca do Parlamento surgiu originalmente, por volta de 1790, quando foram instituídas as bibliotecas do Senado e da Câmara e foi ampliada e renovada várias vezes, desde a sua construção em 1876 – a última em 2006, embora a forma e a decoração permaneçam essencialmente autênticas!
Biblioteca Sainte-Geneviève, França
A construção da Biblioteca Sainte-Geneviève foi confiada ao audacioso arquiteto Henry Labrouste. Na época de sua inauguração, em meados do século XIX, o edifício foi testemunha de vários avanços tecnológicos, como o início do uso de elementos estruturais em ferro fundido. Mas o mais importante deles foi certamente a introdução da iluminação a gás, que permitiu estender o horário de funcionamento da biblioteca para bem além do que era permitido pela luz natural do sol.
Biblioteca do Congresso Americano, Estados Unidos
Inaugurada em 1800 e localizada na capital dos Estados Unidos, Washington, D.C., a Biblioteca do Congresso possui mais de 155 milhões de itens, incluindo materiais disponíveis em 470 idiomas, configurando a maior biblioteca do mundo em espaço de armazenagem e número de livros. Com uma estrutura panóptica (que permite ver todos os elementos ou todas as partes) cada leitor está potencialmente sob o olhar do bibliotecário chefe (que fica no coração da sala de leitura fixada em sua torre central)
Quando? Até 10/02/2019 de terça a sábado (10h30 às 21hs) Onde? SESC Avenida Paulista – Av. Paulista, 119, Bela Vista – tel.: (11)3170-0800. A exposição é gratuita, mas é preciso fazer agendamento pelo site do Sesc: https://agendamento.sescavenidapaulista.org.br/
Fontes e imagens: Obra, sites consultados e SESCSP